terça-feira, 27 de julho de 2010

Mercado de trabalho limeirense eleva em 75,8% a contratação de deficientes

Dados do Ministério do Trabalho apontam que houve crescimento de 75,8% na inclusão de pessoas portadoras de deficiência no mercado formal de Limeira em 2008. A indústria figura como o setor que mais empregou, com participação de 44,81%, seguido de serviços (38,56%) e comércio (14,35%).

Conforme dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2008, a mais recente divulgada pelo Ministério, Limeira apresenta 1.359 trabalhadores com deficiência empregados, cuja participação subiu de 46,83%, em 2007, para 44,81% - em números absolutos, houve crescimento de 168% nesse extrato de inclusão de deficientes no mercado formal. O setor de serviços aparece em segundo lugar, com participação de 38,56%, seguido do comércio com 14,35%.
Segundo dados da Gerência Regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de Piracicaba, que abrange 15 municípios da região, são cerca de 24 milhões de pessoas portadoras de deficiência no Brasil. Em Limeira, a estimativa é de três mil, ou seja, 1,2% da população.
Para o diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Limeira, Jairo Ribeiro Filho, a indústria aparece como o setor que mais emprega pessoas com deficiência por ter um grande contingente de firmas. Ele também argumenta que a obrigatoriedade da lei de cotas fez com que a indústria abrisse espaço para esse universo de trabalhadores. “As empresas sérias cumprem, orientam e apóiam a inclusão das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho. “A Ciesp/Fiesp tem realizado fóruns para orientar e auxiliar os associados no cumprimento da lei e, dessa forma, contratam”, ponderou. Porém, o diretor faz uma ressalva sobre a falta de oferta deste tipo de mão de obra. “Há empresas que estão com dificuldade de cumprir a cota”, afirmou.
Antenor Varola, da Gerência Regional do MTE de Piracicaba, diz que o órgão tem realizado um trabalho mais efetivo de fiscalização nas empresas para o cumprimento da lei previdenciária 8.213/01, que determina que estabelecimentos com mais de 100 funcionários e, progressivamente, com o aumento desse número, empreguem cota de 2% a 5%, desde 2003. “Para este ano, o Ministério irá aplicar política pública nacional mais específica. São ações fiscais realizadas por grupos de auditores”, comenta. A finalidade é fiscalizar as empresas no cumprimento da lei e desenvolver trabalho de informação.
Outro aspecto abordado por ele é que os municípios criem ações para chegar ao mercado oculto, que é a mão de obra discriminada, que não aparece para a sociedade. “São as pessoas portadoras de deficiência que não vão à escola ou eventos sociais”, conta. Para ele, as ações como o Programa de Saúde da Família (PSF) ou agentes de saúde, devem mapear esse mercado oculto e localizá-las para, futuramente, absorvê-las e capacitá-las para garantir a confiança dessas pessoas. “É um esforço de base para trazer os deficientes para o mercado de trabalho depois de capacitados”, pontuou.
O coordenador do Centro de Habilitação e Treinamento Profissional da Associação de Reabilitação Infantil da Associação de Reabilitação Infantil de Limeira (Aril), José Luiz Rodrigues, trabalha com capacitação há 32 anos e diz que, no início, a visão de encaminhar pessoas portadoras de deficiência ao mercado de trabalho era restrita. Segundo ele, hoje, as pessoas têm um olhar diferenciado sobre o assunto. “Trabalho com um grupo heterogênio, no qual cada um é capacitado dentro do seu limite. A capacitação estimula o deficiente para o mercado de trabalho, além de ajudá-lo a se preparar para a vida”, conta
Ele acredita que a indústria tem absorvido um grande número de deficientes porque é um setor mais organizado, mas ainda existem muitas empresas mal informadas a preconceituosas. “O problema ainda é a desinformação e, com a obrigatoriedade da lei de cotas, levou as empresas a conhecer a temática”, ponderou.
Rodrigues diz que o deficiente intelectual se encaixa em trabalhos onde existem rotina, e desempenham as funções como outro qualquer trabalhador. No CHTP, os deficientes são capacitados a partir dos 16 anos e integram o programa com a expectativa de ingressar no mercado. “Temos treinamento de serviços gerais, marcenaria e fábrica própria. Não basta a informação, temos que incorporar os hábitos e atitudes de trabalho”, comentou.
Ele ainda acrescenta que, atualmente, a sociedade e o setor produtivo caminham para garantir os deveres e direitos do deficiente.

Olhar dos deficientes

Sidnéia Rosa da Silva possui deficiência mental e foi atendida pela Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) durante muitos anos, quando aprendeu várias atividades, como serviços gerais. Hoje, aos 32 anos, trabalha há quatro anos no setor de farmácia da Santa Casa de Limeira. Ela cumpre uma jornada de 8 horas diárias e monta kits. “No começo, senti preconceito das pessoas e ficava preocupada. Até chorava. Atualmente, não ligo mais”, contou. Com o salário, ela ajuda no orçamento da família e defende a idéia de mais vagas para os deficientes. No departamento, ainda trabalham mais dois funcionários com deficiência mental.
Débora Xavier perdeu uma parte do braço devido a uma mordida de cachorro. Hoje, aos 32 anos trabalha como vendedora na DPaschoal de Limeira. O acidente ocorreu há sete anos e depois disso, trabalhou numa academia de ginástica com carteira assinada. Na DPascoal, entrou em 2007, no sistema de cotas. Com ela, trabalham mais pessoas portadoras de deficiência física. “Não encontrei preconceito no ambiente de trabalho. Porém, a discriminação existe na sociedade. As pessoas acreditam que somos incapazes, mas a incapacidade está no olhar delas”, afirmou.
Para ela, a lei de cotas foi fundamental para garantir espaço para os deficientes no mercado de trabalho. “Com a lei houve uma evolução. Se não existisse, estaríamos no mesmo patamar”, conta. Joaquim Lazari, presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência de Limeira, afirma que as empresas limeirenses têm restrição quanto à deficiência. O cadeirante, por exemplo, para ser contratado por uma empresa, necessita que sejam feitas modificações para a acessibilidade. “As empresas procuram contratar principalmente as pessoas com deficiência leves, o que é, para ele, um obstáculo na aplicação da lei. Lazari acredita que somente a fiscalização realizada pelo Ministério do Trabalho não é suficiente. “Há necessidade de aplicação de multas”, completa.
Em Osasco, segundo Lazari, há um trabalho de reabilitação do deficiente, no qual o Ministério Público (MP) atua junto com a prefeitura e entidades, garantindo ao município um alto índice de contratação de deficientes. Em Limeira, segundo ele, há pouca oferta de deficientes para suprir a demanda do mercado, que por outro lado, não acredita no potencial do deficiente.
Para ele, a deficiência mental necessita de capacitação onde haja atividade repetitiva dentro do seu limite, enquanto a física impõe necessidade diferentes. Porém, ele destaca que é fundamental a qualificação. “Hoje, no Isca Faculdades há 32 deficientes físicos e visuais inscritos. O mercado irá escolher o mais capacitado”, define.
Lazari se tornou cadeirante em 1983, depois de um acidente. Na época, ele conta que não tinha consciência dos direitos dos deficientes. “Limeira precisa do desenvolvimento de um conjunto de políticas públicas para o deficiente através de ações universais”, conclui. Para ele, a lei de cotas é necessária, porém falta um dispositivo legal que garanta espaço para o deficiente com as políticas públicas globais.

Discurso pautado no preconceito
A tese de doutorado da psicóloga Maria Eduarda Silva Leme, da Universidade de Campinas (Unicamp) foi sobre as barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência e para ela os deficientes continuam sendo objeto de preconceito, tanto no discurso das pessoas como no de instituições. “A instituição de cotas busca amenizar a rejeição, predisposição e mesmo negação do mercado de trabalho em absolver essas pessoas”, conta. Leme acredita que devam ser criados novos sentidos para os discursos, que quebrem conceitos que o deficiente é incapaz, dependente, excluído e necessita de cuidados assistenciais. “Trata-se de cidadania e direito”, defende.
Ela acredita que se devem discutir modos de consolidar a implementação da lei de cotas por meio de fiscalização e ações educativas nas empresas tencionando modificar concepções. “A lei avança, porém, incorpora sentidos controvérsios. A empresa contrata, porém, numa função mais simples”, completa.
A pesquisadora conta que as pessoas com deficiência devem ser contempladas por políticas públicas universais, todavia, o que ainda ocorre, é que o atendimento acaba ficando, em grande parte, restrito às instituições filantrópicas. “Os deficientes possuem capacidade de trabalho, desde que tenham acesso à escola e à qualificação profissional”, finaliza.

Fonte: Gazeta de Limeira - Cláudia Kojin

Um comentário:

  1. Olá, será que você poderia me ajudar, estou precisando de uma informação sabe sobre a porcentagem (ou quantidades) de deficientes físicos de Limeira, para um trabalho acadêmico. Obrigada desde já

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